sexta-feira, 31 de julho de 2009

Reflexão.

Ícones da ortodoxia

Leio História do medo no Ocidente, de Jean Delumeau (Companhia de Bolso). Vou devagar, o volume de informações excede meu hardware. Mas já aprendi sobre o pavor que o mar impingia aos antigos navegadores, que acreditavam em leviatãs, sereias e polvos gigantes.

Antes de partir, muitos sacrificavam animais para não serem tragados, caso ultrapassassem as linhas imaginárias do medo. O Cabo do Bojador, na costa ocidental da África, era considerado o fim do mundo. Dizia-se que os ousados nunca voltavam.

Delumeau afirma que os elementos desencadeados tempestade ou dilúvio evocavam para os homens de outrora o retorno ao caos primitivo. Deus, no segundo dia da criação, separara as águas que estão sob o firmamento das águas que estão acima do firmamento (Gênesis 1:7). Se, com a permissão divina, está claro, elas transbordam novamento os limites que lhes haviam sido designados, o caos se reconstitui (pag. 62).

Delumeau relata como se desenvolveu o medo de bruxas, feiticeiros e magos que acabaram na fogueira inquisitorial. O historiador francês afirma ainda que alguns ícones da ortodoxia, geralmente invocados para sustentar argumentos conservadores, respiravam o mesmo ar supersticioso de seus dias.

Santo Agostinho acreditava em astrologia. Empenhava-se, inclusive, em distinguir a lícita da ilícita. Suas Confissões (V, cap. 1º) admitem que as estrelas podem ser os sinais anunciadores dos acontecimentos, mas elas não os rematam. Pois, se os homens agem sob a coerção celeste, que lugar resta ao juízo de Deus, que é mestre dos astros e dos homens?.

O que Delumeau diz de Lutero, que tem a reputação de ser implacável contra a crendice popular?

Anunciando a um correspondente a morte do príncipe-eleitor de Saxe (em maio de 1525), Lutero esclareceu: "O sinal de sua morte foi um arco-íris que vimos, Philippe [Melanchthon] e eu, à noite, no último inverno, acima da Lochau, e também uma criança nascida aqui em Wittenberg sem cabeça, e ainda uma outra com os pés ao contrário" (pag.110)

Eis o que afirma sobre o venerado Calvino:

Ele opõe então a astrologia natural, fundada na conformidade entre as estrelas e planetas e a disposição dos corpos humanos, à astrologia bastarda, que procura adivinhar o que deve acontecer aos homens e quando e como eles devem morrer (pag. 108).

Advirto, portanto, os austeros defensores da mais reta doutrina: cuidado quando precisarem alicerçar suas afirmações dogmáticas citando a verdade de Agostinho, Lutero e Calvino. Eles, iguais a nós, eram humanos. E também falaram tolices.

Por Ricardo Gondim: www.ricardogondim.com.br

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Reflexão.

Escrever, vício maldito

Escrevo porque preciso enjaular palavras, cativar o vento divino e eternizar pensamentos diáfanos. Escrevo porque não consigo guardar sentimentos inexprimíveis. Tenho que expelir um entalo que ficou preso no peito e que não sei contar.

Escrevo porque vagabundeio nas estradas da fantasia. Navego à deriva em minhas convicções. Ébrio, serpenteio nas ideias. Sinto o impulso de dizer coisas que ainda não cravei. Anseio por narrar o inenarrável. Apanho, sem saber expor o apertado quarto de onde escapam as minhas lágrimas.

Escrevo porque minha nostalgia não tem cura. Os vestígios trágicos de minha juventude irrequieta clamam por vingança. Minha prosa luta para resgatar o que nunca vivi. Minha poesia só deseja celebrar a beleza que me privei de contemplar, ressuscitar risos que outrora disfarcei e retornar a lugares de onde me ausentei.

Escrevo porque busco remendar o meu coração despedaçado. Não encontro terapia nas conversas voláteis. Quando redijo, remedeio decepções, debelo desesperos, saro feridas. Unto minhas rachaduras com o bálsamo do abecedário. Suo para exprimir o que vai no meu espírito e no turbilhão das sensações, sou curado.

Escrevo porque me viciei em alcançar a perfeição. Ao fazer literatura vislumbro a distante excelência, sabendo que o absoluto está além do meu alcance. Abraço o desafio de superar-me, sempre consciente de minha mediocridade.

por Ricardo Gondim: www.ricardogondim.com.br

segunda-feira, 20 de julho de 2009

MALAS PRONTAS:
O assessor parlamentar do vereador e médico Cesar Cortez, Felipe, disse que já está de malas prontas para ir para Brasília. O jovem está pra lá de otimista com a eleição de Cortez para federal. Não dá para negar que o edil limeirense é o político que possui maiores chances no quadro atual.

CAI:

Um grupo de jovens voluntários criou na cidade de Itajubá, Sul de Minas, uma ong muito séria denominda Cai-Circulo de Amigos de Itajubá. Que oferece curso pré vestibular gratuito para jovens carentes da cidade de 85 mil habitantes.

Resultado:

Para se ter idéia, da última turma de 60 alunos, 15 passram em faculdades federais. O projeto é exemplar, e conta com o apoio de uma faculdade da cidade e apenas uma empresa.

Seriedade:

Os jovens que administram tudo com muita seriedade, são voluntários e todos os professores também. Inclusive há alunos que passaram pelo cursinho, fizeram a faculdade e hoje são professores voluntários. Fiquei emocionado com o idealismo do grupo.

A cidade:

Itajubá, localizada no sul de Minas, foi a segunda cidade do país a ter energia elétrica e a primeira a ter o curso de engenharia elétrica.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Ufa.

Estou de volta:

Depois de mais duas semanas percorrendo o sul de Minas Gerais: Itajubá, Pouso Alegre, Poços...e uma infinidade de lugares que nunca havia visitado, estou de volta a terrinha...

Exemplo:
Logo volto para falar de um projeto exemplar, coordenado por um grupo de jovens voluntários, realizado em Itajubá, que tive oportunidade de conhecer...

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Reflexão.

O sono da morte

Vivemos como pêndulos suspensos por fios de seda. Dependemos de mãos desconhecidas. Somos delicado cristal, perigosamente estilhaçáveis. Insistimos no colo que nos aqueça no inverno.
Vivemos no limiar da morte, à espera da Fortuna que, muitas vezes escondida numa esquina sombria, foge de nós. Padecemos do mal da solidão. Sofremos de febre existencial; febre que mata sem calor.
Vivemos rodeados por armadilhas. No caminho, ameaçados por minas prestes a explodir nossas pernas. Tornamos todos os silêncios, ardis, todas as falas, contrafações, todos os gestos, seduções. A travessia vira um beco sombrio. Assombrados, viajamos com pressa. Inconformados, vemos as vielas se contorcendo em labirintos lúgubres. Fatigados, notamos a jornada longa; que se dissolve no infinito.
Vivemos na ante-sala do desespero. Toda a lucidez não aplaca o choro do nosso coração, toda a loucura não espairece a sede do nosso espírito, toda a sisudez não asfixia o grito das nossas vísceras. Sabemo-nos incompletos. Vemo-nos retalhados. Reconhecemo-nos bestiais.
Vivemos nas franjas de um oásis transcendental. Ouvimos o murmúrio de águas, paradoxalmente, próximas e inalcançáveis. Angustiados, esboçamos uma única petição: “Até quando, Senhor? Esquecer-te-ás de mim para sempre? Até quando ocultarás de mim o rosto? Até quando estarei eu relutando dentro de minha alma, com tristeza no coração cada dia? Atenta para mim, responde-me Senhor, Deus meu! Ilumina-me os olhos para que eu não durma o sono da morte” (Salmos 13).
Fonte:www.ricardogondim.com.br