Ricardo Gondim:www.ricardogondim.com.br
Somos tecidos com fios de espera, abraço, sossego e despedida. Contingência e certeza se misturam no caldeirão alquímico da esperança. Somos susto e descanso, sombra e luz, tragédia e comédia, acerto e erro.
Somos talhos na ardósia da transitoriedade. Nada além de contos ligeiros. Trágicos, descemos escarpas. Inebriados, invejamos o devaneio das águias. Inconsequentes, bailamos na beira dos abismos. Tolos, criamos eufemismos para driblar a morte.
Somos esboços de imaginações, fantasias e delírios. Fugimos dos absurdos que nos esbofeteiam. O absurdo da miséria, afastamos para além-mar; o absurdo da guerra, explicamos com muitos argumentos; o absurdo da injustiça, creditamos à Providência. Realistas, peitamos o mal. Obtusos, massacramos os indefesos. Altruístas, amamos o estrangeiro.
Somos réstias de desejos, vontades e expectativas. Asseamos o coração dos germens da maldade. Fazemos poesia com as estrelas e amor com a lua. Encaramos o sol e transformamos o arco-íris em mais que um arco-íris. Emocionados, soluçamos com a ternura. Brindamos momentos efêmeros mesmo que depois os joguemos na gaveta da amnésia. Inconformados, esbravejamos como a afobação dos anos. Confessamos às paredes que amamos viver.
Somos deslumbres de mistérios, eternidades e infinitudes. Não nos contemos dentro das sebes. Irrequietos, repensamos roteiros. Não nos conformamos com as demandas monárquicas. Rebeldes, imaginamos outro Reino. Corajosos, encaramos a sina do possível não-ser. Espezinhamos a fatalidade. Cientes que não passamos de poeira, nos autoproclamamos profetas da nova terra e do novo céu.
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