sexta-feira, 13 de março de 2009

Reflexão.

Habilidades de interpretação

Sempre me questiono que tipo de ídolo possa ter influenciado minha juventude, além de papai, naturalmente. Digo isso porque muitos cinquentões de hoje, e estou próximo de me tornar um deles, vivem momentos de êxtase quando se referem aos heróis dos anos 60, época de intensas transformações culturais. Mesmo conhecendo melhor essas biografias mais tarde, tais amigos não se cansam de reverenciá-las, no que pergunto: ficamos por aí? As causas libertárias se acabaram ou, que tipo de ídolos foram construídos depois? Quem, hoje em dia, serve de inspiração para os adolescentes em geral? Desconsiderando os cantores de ocasião, descontados os meteoritos esportivos, encontro poucos e, mesmo assim, com rara luminosidade. Por isso quando Ronaldo cabeceou, aos emocionantes 47 minutos do segundo tempo, ele não apenas estufou as redes do arqui-inimigo corintiano. Inaugurou, sem saber ou querer, um raro momento de reflexão no seio de muitas famílias. De união, até, e explico. Fanatismos à parte, o fato é que o gol do Fenômeno pareceu devolver-lhe a própria vida, muito embora sedimentada em uma carreira efêmera como jogador profissional. E aquele lance pareceu não ter comovido apenas seus fãs, como muitos projetaram seus recomeços na explosão do alambrado. Ronaldo, é verdade, teve fases de maior influência na vida nacional. Viveu cercado da fama nos últimos 16 anos, época em que dividia sua vida entre a Europa e o Brasil, muito mais do lado de lá que cá, e conheceu do bom e do melhor. Até se esqueceu o que era andar de ônibus mas, vítima do destino, enfrentou barris de gelo, provocações sobre a gordura e perseguições em boates, tudo para retornar ao seu trono. Ronaldo, o meninão crescido, oferece um exemplo de perseverança, embora muito mais para preservar seus contratos vinculados à sua permanência nos gramados. Não importa. A volta por cima é o que queremos fazer com a crise, é o que desejamos às crianças desatentas nas escolas, aos desleixados no mercado de trabalho. Sempre uma nova chance, sempre um horizonte novo a enxergar. Por isso e aquilo muitos torcem pelo Fenômeno, mas volto a me inquietar: contentamo-nos que alguém faça isso por nós ou, definitivamente, seguimos o exemplo? Dá para surfar na onda do Ronaldo, como dá para criarmos nossos tubos ou marolas, a escolha é de cada um. Ele, com toda a grana, não conseguiu alguém para correr em seu lugar nos treinos. No que encerro: ídolos podem inspirar, mas o suor é individual.

por Roberto Lucato, jornalista, advogado, e diretor proprietário do Jornal Gazeta de Limeira: www.gazetadelimeira.com.br

Um comentário:

Anônimo disse...

É sempre bom estar de bem com os barões da midia. Né hamilton?...