sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Reflexão.

Passado irredutível
Não transfiro, nem projeto em ninguém e em nada os meus movimentos passados. Arco com as consequências de minha ingenuidade, de minha imaturidade, de minha simplicidade juvenil. Assumo: confundi fé com credulidade. Dediquei-me cegamente a processos de manipulação. Repeti frases de efeito sem a devida crítica. Embarquei em empreendedorismos ideologicamente contaminados. Não culpo ninguém e não cobro. Não guardo ressentimentos. Eu vivi intensamente cada momento e, repito, assumo a minha história.
Eu acreditei nos projetos missionários, que hoje vejo como meras panacéias para levantar dinheiro nos Estados Unidos. Vários esforços de ganhar almas visavam tão somente fortalecer com testemunhos e fotografias, estrategicamente bem batidas, a sede expansionista das denominações.
Eu acreditei que os enclaves missionários eram necessários. Não percebia o enorme preconceito que eles tinham conosco, com a nossa cultura, com a nossa espiritualidade. Enfronhei-me em “cruzadas” evangelísticas e nunca critiquei a instrumentalização dos pobres para que riquíssimas instituições se tornassem ainda mais poderosas. Participei de reuniões com Morris Cerullo, Jimmy Swaggart achando realmente que eram homens de Deus sem ver que eram soberbos e vaidosos.
Ceguei os meus olhos para a politicagem mais infame que percebia na denominação que nossa igreja fez parte. Nunca distingui o Movimento Evangélico do compromisso evangélico com a mensagem de Jesus. Trabalhei à exaustão para que a doutrina do Movimento fosse compreendida pelo maior número de pessoas, acreditando que assim povoaria o céu e saquearia o inferno.
Meus amigos se reduziram aos que comungavam com os meus conceitos. Em nome dessas amizades relevei escândalos éticos. Engoli seco conversas cretinas e conspirações para conquistar mais poder – hoje vejo que fui mais cretino que muitos.
De repente muitas coisas foram pesando em minha alma. Alquebrado e triste com o meu passado, procuro mudar de pele. Preciso da misericórdia divina para lavar as nódoas que mancham o meu caráter. Luto para ser irmão de homens e mulheres de boa-vontade. Tenho que me despedir de mim mesmo, dos ambientes que ajudei a criar e de ex-amigos, que só agora reconheço como meros aliados.
O passado irredutível pode ser reconstruído com decisões que eu tomar no presente. Meu presente não precisa ser mera consequência do que vivi; sequer o futuro, um desdobramento inexorável do presente.

Por Ricardo Gondim. www.ricardogondim.com.br

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